Proteja seu cérebro
Cris Viana |
6:27 AM |
Uma única unidade da oleaginosa é capaz de resguardar os neurônios,
garantir o bom funcionamento da tireoide, evitar o envelhecimento
precoce e blindar o coração.
Quando o consumo de um alimento é associado a um ganho para a saúde,
como derrubar a pressão arterial, afugentar o diabete ou driblar o
câncer, logo vem o recado: você deve ingeri-lo todos os dias e, de
preferência, em doses bem caprichadas. Com a castanha-do-pará, também
conhecida como castanha-do-brasil, a história é um pouco diferente.
Basta uma unidade por dia, só uma mesmo, para proteger o cérebro contra
males neurodegenerativos - caso da doença de Alzheimer, como sugere um
estudo da nutricionista Bárbara Rita Cardoso, do Laboratório de
Nutrição-Minerais da Universidade de São Paulo.
No trabalho, ela comparou o estado nutricional de voluntários saudáveis
ao de portadores do problema. O resultado mostrou que o grupo com
comprometimento cognitivo apresentava uma deficiência muito maior de
selênio, mineral encontrado em abundância na pequena noz - para ter
ideia, uma unidade concentra de 200 a 400 microgramas do nutriente.
(Conheça 10 alimentos ricos em selênio.) "Hoje, a recomendação de
consumo para um adulto é de 55 microgramas diários", lembra Silvia
Cozzolino, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Alimentação e
Nutrição. Ou seja, sozinha, a castanha já supre a quantidade de selênio
de que seu organismo precisa. E acredite: ele realmente depende do
mineral para funcionar a todo vapor.
"O selênio é fundamental para a formação de uma enzima que tem ação
antioxidante, a glutationa peroxidase", explica Bárbara. Não se assuste
com o palavrão. O importante é saber que tal enzima é uma das mais
potentes na hora de dar um chega pra lá nos radicais livres, aquelas
moléculas que danificam as células e causam todo tipo de enrascada -
inclusive a morte de neurônios, o que fomenta o desenvolvimento da
doença de Alzheimer.
As evidências apontam, portanto, que o consumo de selênio reduz a
produção desenfreada desses inimigos. Agora, o próximo passo da
investigação será analisar se incrementar a dieta com o mineral também
seria capaz de barrar os danos na massa cinzenta de quem ainda não tem
Alzheimer mas já é refém de falhas cognitivas leves. "Para isso, estamos
oferecendo uma castanha ao dia aos voluntários. No ano que vem, teremos
os primeiros resultados da intervenção", garante Bárbara.
Para o bem da tireoide
Deixar os neurônios sãos e salvos dos radicais livres e, assim, prevenir
males neurodegenerativos está longe de ser o único benefício associado
ao selênio da castanha. Já se sabe que ele também é fundamental para
regular o trabalho da tireoide, onde são produzidos os hormônios T3 e
T4, dupla que rege o funcionamento do corpo inteiro. Quem viu isso na
prática foi a nutricionista Carla Soraya Costa Maia, professora da
Universidade Estadual do Ceará. Durante seu estudo de doutorado, ela
avaliou pacientes com problemas na tireoide - tanto hipo como
hipertireoidismo - e pessoas sem nenhuma disfunção nessa glândula. Uma
parte era de São Paulo, onde o solo é pobre no mineral, e a outra do
Ceará, estado em que a terra esbanja selênio. Isso fez diferença.
Ao final do levantamento, a pesquisadora Carla Soraya notou que o time
da capital paulista tinha menores níveis do composto na circulação.
"Além disso, foi constatado que, entre pacientes com hipo ou
hipertireoidismo, aqueles que moravam em São Paulo apresentavam maiores
indícios de radicais livres e inflamação na glândula", informa a
cientista. Os dados, afirma ela, ainda são preliminares, mas reforçam a
importância da castanha-do-brasil e outras fontes de selênio para a
glândula.
Por falar em radicais livres, sabia que o estresse oxidativo, como é
chamado o desequilíbrio entre a formação e a remoção dessas moléculas, é
bem maior em indivíduos que praticam atividades físicas moderadas ou
intensas? Para evitar o envelhecimento precoce e garantir um excelente
desempenho, o jeito é deixar o sistema de defesa tinindo. Uma das
enzimas mais cruciais nessa empreitada é justamente a glutationa
peroxadase, aquela que depende do selênio para agir. "Por isso,
recomenda-se aos esportistas que a ingestão diária fique em torno de 200
microgramas", avisa Vanessa Fernandes Coutinho, diretora da empresa VFC
Cursos e coordenadora das pós-graduações em nutrição clínica e
pediátrica da Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro. Ora, nada que
uma castanha não ofereça.
Alguns trabalhos científicos ainda sugerem mais uma grande vantagem de
se render ao pequeno fruto da castanheira: o selênio diminuiria a
agregação de placas nos vasos sanguíneos e a glutationa barraria a
oxidação do colesterol LDL, inimigo do peito. "Ou seja, tudo indica que
existe uma relação inversa entre os níveis de selênio no sangue e a
incidência de doenças cardiovasculares. Mas ainda há poucos trabalhos
sobre o real papel do mineral na prevenção desses males", pondera Eliana
Vellozo, pesquisadora em deficiência de micronutrientes da Universidade
Federal de São Paulo.
Nada de exageros
Diante de tantas promessas, imaginamos que sua vontade não é comer uma
unidade, e sim um saco cheio de castanhas. Mas não leve a ideia adiante.
Em doses excessivas - estamos falando de mais de 800 microgramas -, o
selênio causa prejuízos. Os mais comuns são unhas fracas e quebradiças,
alterações na pele e queda de cabelo. Só que a coisa pode ficar mais
feia. "Em um estudo americano, ofereceram o mineral a pessoas que não
precisavam da suplementação. No meio do caminho, observaram um aumento
no risco de diabete", conta Silvia Cozzolino. Fica o recado: uma
castanha por dia é mais do que suficiente.
O mapa das castanhas
O selênio fica retido no solo. Assim, a concentração do composto em um
mesmo alimento varia de acordo com a área onde ele é cultivado. No caso
da castanha-do-brasil, dois fatores contribuem para o teor altíssimo do
mineral. "Além de a terra da Região Norte ser rica em selênio, a
castanheira tem uma capacidade incrível de absorvê-lo", conta Otniel
Freitas Silva, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa). Abaixo, você vê como essa combinação se reflete
na produção da oleaginosa pelo país.
Amazonas 16 012 toneladas
Acre 10 313 toneladas
Pará 7 015 toneladas
Rondônia 2 107 toneladas
Mato Grosso 1 527 toneladas
Amapá 390 toneladas
Roraima 104 toneladas
Fonte: Revista Saúde
Category: saude