Sabatistas vão passar até onze horas nos locais de prova para fazer o Enem 2013
O Enem, que começa no país todo às 13h, horário de Brasília, é uma prova de conhecimento, interpretação e resistência. Principalmente para quase cem mil jovens, que enfrentarão uma maratona de até 11 horas consecutivas hoje. Seguidores de religiões que guardam o sábado, como a Igreja Adventista do Sétimo Dia, a Igreja Batista do Sétimo Dia e o Judaísmo, eles começam as provas só depois do pôr-do-sol, às 19h. Até lá, ficarão numa sala reservada junto com outros colegas sabatistas.
A espera não é fácil: pelo regulamento do Enem, é permitido sair da sala apenas para beber água ou ir ao banheiro. Conversar, caminhar pela sala ou ler a Bíblia ou a Torá, por exemplo, não é permito. Para driblar o cansaço e a ansiedade, além do preparo para as provas, é preciso treinar a mente e corpo para a maratona.
A coordenadora de Educação da Igreja Adventista do Sétimo Dia no Rio de Janeiro, Deise Porto, indica respiração, meditação e até mesmo exercícios físicos para os jovens, já que o corpo precisa estar tão resistente quanto a mente para o desafio.
- O Enem acaba se tornando mais desafiador para eles do que para quem faz no horário normal. Falamos para eles descansarem, dormirem bem, beber líquidos. No dia, incentivamos que eles façam orações juntos e se apoiem, se tranquilizem. Temos tido ótimos resultados – conta ela.
Oração e apoio dos amigos
Aqui no Rio de Janeiro, quase quatro mil participantes solicitaram o horário especial na inscrição do Enem, entre eles, Vitor Duarte, de 20 anos. Aluno do 2º período de Engenharia Civil da Universidade Estácio de Sá, o jovem adventista pretende usar a nota do Enem para tentar uma bolsa no Programa Universidade para Todos (ProUni), do Governo Federal. Esta é a segunda vez em que ele faz a prova e reconhece o esforço:
- Controlar o psicológico é a parte mais difícil, além do incômodo de ter de ficar sentado por tanto tempo. Conheço muitas pessoas que desistiram. Ano passado, só na sala onde eu estava, umas dez pessoas foram embora. Estar junto com pessoas que você conhece ajuda muito – explica o jovem morador da Tijuca, que preferiu fazer a prova em Petrópolis para ficar ao lado dos amigos.
Para Thays Panssani, adventista de 19 anos, tanto empenho vale a pena. A jovem vai tentar uma vaga no curso de Arquitetura em universidades públicas ou uma bolsa em um curso privado. Além de estudar os conteúdos exigidos na prova, ela têm conversado com os colegas de igreja para ganhar força.
- A oração é a minha preparação psicológica – brinca a jovem – Ficar quase onze horas sentada, entre a espera e a prova mesmo, é quase impossível. A prova de português é a mais cansativa, porque já estamos muito cansados e precisamos nos concentrar para a interpretação de texto. Mas eu tenho um sonho e não vou desistir – afirma Thays, determinada.
Respeito à religião
Deise Porto explica que a tradição de guardar o sábado vem dos dez mandamentos e está na Bíblia: - O 4º mandamento diz: guardai o sábado para santificá-lo. Aproveitamos este dia para nos dedicar aos assuntos mais espirituais, aos estudos religiosos e compromissos na igreja – conta.
O presidente da Federação Israelita do Rio de Janeiro, Jayme Salomão, explica que o período sabático começa depois do pôr-do-sol de sexta e termina no pôr-do-sol de sábado:
- Durante este tempo, os judeus mais ortodoxos não podem nem mesmo escrever ou dirigir. É um dia sagrado e por isso aqueles que seguem a religião à risca solicitam o horário especial.
A federação chegou a receber o pedido de um grupo para que fosse encaminhado ao Inep, instituição que organiza o Enem, a proposta de dividir o exame em dois domingos. A ideia também é apoiada pelas outras religiões sabadistas.
- Para estes jovens, seria melhor que o exame fosse realizado em outro dia, mas entendo que mudar a estrutura de um exame para sete milhões de pessoas é difícil. Vários concursos e vestibulares também contam com horários especiais para os que guardam os sábados. Este horário especial é um grande avanço – conclui Jayme.
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