O vinho faz bem mesmo?
Como essas “descobertas” são veiculadas nos meios de comunicação, tem causado confusão e indagações na mente de muitas pessoas que procuram informações fidedignas para obterem a melhor saúde possível. Para buscar uma posição mais clara sobre o assunto começaremos com o álcool sem inicialmente mencionar o vinho que tem tido mais destaque nos últimos tempos por parte inclusive da classe médica.
O álcool é quase tão antigo quanto a humanidade e os seus efeitos são conhecidos há muito tempo. E o que sabemos de concreto e cientificamente comprovado? Primeiramente temos que classificar o álcool. O álcool não cai na categoria de nutriente ou alimento, mas de droga. E como tal e se algum beneficio nele houver deveria ser usado em situações médicas, por um médico receitado e com a advertência que drogas similares recebem, ou seja: venda somente sob prescrição médica com suas indicações e contra-indicações e efeitos colaterais e as doses a serem usadas e com tarja preta que indique seu potencial em criar dependência.
Assim colocado fica mais fácil analisar as suas ações sobre o organismo humano, quando o seu uso seria benéfico, seus problemas e o custo-benefício em usá-lo como substância farmacológica.
1. O álcool é um depressor do sistema nervoso central e em doses menores podem ter um efeito ansiolítico como os outros calmantes encontrados no mercado de remédios. Em quantidades maiores terá um efeito anestésico por suprimir completamente a consciências e sensações dolorosas. Ele não é usado em medicina como anestésico porque o seu efeito anestésico é muito próximo de efeito letal por parada respiratória. Da mesma forma não é também usado por médicos como calmante ou ansiolítico na atualidade porque existem produtos químicos mais eficientes e devidamente controlados.
2. Estudos feitos com o álcool mostram a sua capacidade de aumentar o colesterol chamado HDL que poderia explicar porque quantidades moderadas de álcool têm uma diminuição de lesões nas coronárias. Outro efeito do álcool nesse sentido seria a sua diminuição na formação de trombos, muitas vezes responsáveis pela oclusão das artérias coronarianas. Outros estudos feitos em animais experimentais mostram que esse efeito de proteção só é possível com doses mais elevadas de álcool. Neste mesmo estudo que foi feito em animais subdividiram-se animais em três grupos: o grupo 1 recebeu uma dose de vinho tinto; o grupo 2 recebeu uma dose de vinho branco e o terceiro recebeu somente suco de uva. Foram criadas lesões nas coronárias desses animais e posteriormente tratadas da maneira descrita acima. O resultado foi que os que receberam vinho tinto e suco de uva apresentaram uma diminuição de enfartes cardíacos comparados com os animais que receberam o vinho branco. Logo, se verifica que os dois grupos protegidos foram os que usaram vinho tinto e suco de uva. Como o grupo de vinho branco não recebeu proteção e sim os que usaram uva ou vinho tinto, percebe-se que o efeito estava na uva e não no álcool.
3. O álcool, em doses maiores e períodos prolongados, têm um efeito sobre os nervos do coração, responsáveis pela condução dos estímulos nervosos que são responsáveis pelo ritmo cardíaco. Assim o álcool pode desencadear arritmias cardíacas de vários tipos. O tipo de arritmia mais temível é a taquicardia ventricular que pode resultar em morte súbita que se observa em pessoas álcool dependentes.
4. Outra doença conhecida por miocardiopatia, aumenta com o uso de álcool. Nesse caso o músculo do coração começa a ficar literalmente doente, perdendo gradativamente a sua força até entrar em insuficiência cardíaca e conseqüente morte. A mulher tem maior risco de contrair esse problema. A “vantagem” dessa doença é que se a pessoa parar de beber poderá recuperar a força do coração o que não costuma acontecer nas miocardiopatias que ocorrem por outras causas.
5. O uso de álcool por tempo prolongado aumenta a tendência de derrames cerebrais. Esse aumento de acidentes vasculares estaria associado às arritmias e formação de trombos induzidos pelo álcool.
6. Os efeitos do álcool sobre o aparelho gástrico são diversos: no estomago aumentam a incidência de gastrite crônica e é 10 vezes maior o risco de desenvolver câncer de esôfago. No intestino gera diarréia crônica e conseqüente má absorção de nutrientes da alimentação levando a desnutrição ou falta de vitaminas e suas conseqüências. O pâncreas é outro ponto vulnerável do organismo para os que bebem cronicamente. Dores agudas de inicio súbito em pessoas que bebem devem ser investigados, pois a pancreatite aguda é muito freqüente. Ataques mais severos podem levar ao choque e morte. O fígado, que tem a responsabilidade de desintoxicar o organismo dos efeitos do álcool, paga o seu tributo com hepatite crônica, infiltração gordurosa e cirrose.
7. Disfunção sexual com deterioração de sua atividade é o resultado em longo prazo do uso de álcool. Inicialmente parece que o álcool aumenta a libido devido à desinibição que álcool provoca. Posteriormente os mecanismos responsáveis pelo apetite sexual tornam-se enfraquecidos pela atrofia dos órgãos sexuais. Esses problemas ocorrem em cerca de 50% das pessoas que usam cronicamente o álcool.
8. Vários estudos tem mostrado que mesmo moderadas doses de álcool diminuem a capacidade do sistema imunológico. Ele, o álcool, diminui em 67% a atividade das células responsáveis em nos defender de invasões de vírus e bactérias . Aldo-Benson, M, et.al. Federation of American Sciences for Experimental Biology, Annual Meeting May, 1988. Abstract #7966. Como conseqüência ficamos mais sujeitos a contrair infecções bacterianas e virais.
9. O uso prolongado de álcool esta associado a um aumento da pressão arterial e esse efeito é mais marcado no sexo feminino. Quem quer que já tenha uma tendência a ter pressão elevada é fortemente aconselhado a não usar álcool de modo algum. Mesmos os que se consideram bebedores leves ou moderados estão no mesmo risco embora, doses maiores tendem a ter efeitos maiores sobre a pressão sanguínea. Fridman G. Klartsky AL. Ann Intern Méd 1983 May; 98(5 Pt 2): 846-849.
Esse é o panorama dos efeitos do álcool no organismo em maior ou menor dose. Frente a sua capacidade de diminuir o risco cardíaco em pessoas que estão predispostas a problemas coronarianos mesmo sem levar em consideração os seus malefícios reais, caberia a pergunta se seria aconselhável alguém ser aconselhado a beber álcool como preventivo de doenças cardíacas a resposta é, não.
“É importante notar que não há testes clínicos randomizados (aleatórios) para verificar a eficácia do uso diário do álcool para a redução de incidência da doença coronária e mortalidade e não é apropriado para o médico recomendar o uso de álcool só para prevenir doenças cardíacas... Outras medidas de mudanças no estilo de vida e tratamentos médicos devem ser encorajadas para os pacientes que estão sob risco de desenvolver doenças cardiovasculares”. (Goodman&Gilman’s The Pharmacological Basis of Therapeutics Décima edição. Pg. 431).
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