Papa fala sobre a volta de Jesus.
[Na]
quarta-feira, o papa Francisco, em sua habitual catequese semanal,
continuou aprofundando no Símbolo da fé: o Credo. Com uma praça de São
Pedro, mais uma vez, cheia de jovens e peregrinos, o papa dirigiu-lhes
estas palavras:
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
No
Credo, professamos que Jesus “virá novamente na glória para julgar os
vivos e os mortos”. A história humana começa com a criação do homem e da
mulher à imagem e semelhança de Deus e conclui com o juízo final de
Cristo. Muitas vezes esquecemos esses dois polos da história e,
sobretudo, a fé no retorno de Cristo e no juízo final, às vezes não é assim tão clara e forte no coração dos cristãos. Jesus, durante Sua vida pública, refletiu muitas vezes na realidade da Sua última vinda.
Hoje eu gostaria de refletir sobre três textos evangélicos que nos
ajudam a entrar neste mistério: o das dez virgens, o dos talentos e o do
juízo final. Todos os três fazem parte do discurso de Jesus sobre o fim
dos tempos, no Evangelho de São Mateus.
Em
primeiro lugar lembremos que, com a Ascensão, o Filho de Deus levou
para junto do Pai a nossa humanidade assumida por Ele e quer atrair
todos a si, chamar todo o mundo para ser acolhido nos braços abertos de
Deus, para que, no fim da história, toda a realidade seja entregue ao
Pai. Há, no entanto, este “tempo imediato” entre a primeira vinda de
Cristo e a última, que é precisamente o momento que estamos vivendo.
Neste contexto do “tempo imediato”, coloca-se a parábola das dez virgens
(cf. Mt 25,1-13). São dez jovens que esperam a chegada do esposo, mas
ele atrasa e elas caem no sono. Ao anúncio repentino de que esposo está
chegando, todas se preparam para acolhê-lo, mas enquanto cinco dessas,
sábias, têm óleo para alimentar as próprias lâmpadas, as outras, tolas,
ficam com as lâmpadas apagadas porque não o têm; e enquanto procuram
chega o esposo e as virgens tolas encontram fechada a porta que leva à
festa nupcial. Batem com insistência, mas agora é tarde, o esposo
responde: Não vos conheço.
O
Esposo é o Senhor, e o tempo de espera da Sua chegada é o tempo que Ele
nos presenteia, a todos nós, com misericórdia e paciência, antes da Sua
vinda final; é um tempo de vigilância; tempo em que devemos ter acesas
as lâmpadas da fé, da esperança e da caridade, de ter aberto o coração
para o bem, para a beleza e para a verdade; tempo de viver segundo Deus,
porque não conhecemos nem o dia, nem a hora da volta de Cristo. O único que nos é pedido é estarmos preparados para o encontro – preparados para um encontro, para um lindo encontro, o encontro com Jesus –, que significa saber ver os sinais da sua presença,
ter viva a nossa fé, com a oração, com os Sacramentos, ser vigilantes
para não dormirmos, para não nos esquecermos de Deus. A vida dos
cristãos adormecidos é uma vida triste, não é uma vida feliz. O cristão
deve ser feliz, a alegria de Jesus. Não durmamos!
A
segunda parábola, a dos talentos, nos faz refletir sobre a relação
entre como empregamos os dons recebidos por Deus e o Seu retorno, quando
nos pedirá contas de como os temos utilizado (cf. Mt 25, 14-30). [...] A
espera da volta do Senhor é o tempo da ação – nós estamos no tempo da
ação –, o tempo de frutificar os dons de Deus não para nós mesmos, mas
para Ele, para a Igreja, para os outros, o tempo de fazer sempre crescer
o bem no mundo. E especialmente neste tempo de crise, hoje, é
importante não fechar-se em si mesmo. [...]
Finalmente, uma palavra sobre o juízo final, no qual se descreve a segunda vinda do Senhor, quando Ele julgará todos os seres humanos, vivos e mortos (cf.
Mt 25, 31-46). A imagem usada pelo evangelista é a do pastor que separa
as ovelhas dos cabritos. À direita são colocados aqueles que agiram de
acordo com a vontade de Deus, socorrendo o próximo faminto, com sede,
estrangeiro, nu, doente, preso – disse “estrangeiro”: penso em tantos
estrangeiros que estão aqui na diocese de Roma: o que fazemos por eles? –
enquanto à esquerda vão aqueles que não socorreram o próximo. Isso nos
diz que seremos julgados por Deus sobre a caridade, sobre como O amamos
nos nossos irmãos, especialmente nos mais frágeis e necessitados. É
claro, devemos sempre ter em mente que somos justificados,somos salvos pela graça,
por um ato de amor gratuito de Deus que sempre nos precede; sozinhos,
não podemos fazer nada. A fé é principalmente um dom que nós recebemos.
Mas para dar frutos, a graça de Deus requer sempre a nossa abertura a
Ele, a nossa resposta livre e concreta. Cristo vem para levar-nos à
misericórdia de Deus que salva. O único que nos é pedido é confiar nEle,
corresponder ao dom do Seu amor com uma vida boa, feita de ações
animadas pela fé e pelo amor.
Queridos
irmãos e irmãs, que olhar para o juízo final nunca nos dê medo; mas nos
leve a viver melhor o presente. Deus nos oferece com misericórdia e
paciência este tempo para que aprendamos a reconhecê-Lo a cada dia nos
pobres e nos pequenos, nos comprometamos pelo bem e sejamos vigilantes
na oração e no amor. O Senhor, no fim da nossa existência e da história,
possa reconhecer-nos como servos bons e fieis. Obrigado.
(Zenit)
Nota: Lembro-me
de que, quando era católico (antes dos anos 1990), eu nunca tinha
ouvido falar na segunda vinda literal de Jesus, até porque a teologia
dominante aqui na América do Sul era a da Libertação, com sua pregação
em torno de um “reino” de conquistas sociais. Ao mesmo tempo em que o
papa fala sobre o retorno de Jesus, ele (assim como seus dois
antecessores) dá grande ênfase à observância do domingo. Resta saber
como ele vai orientar seu rebanho com respeito à maneira como o verdadeiro Cristo virá e que está claramentedescrita na Bíblia.
E se esse Cristo vindouro reafirmar a crença no domingo como dia
sagrado, em franca oposição à Palavra? E se ele “descer” à Terra e
começar a proclamar a paz incentivando a união de todos sob a liderança
de um (nos moldes do movimento ecumênico defendido pelo papa)? É
interessante a menção do papa à salvação pela graça, o que certamente
agrada aos ouvidos protestantes, e há uma curiosa contradição nestas
palavras de Francisco: “A história humana começa com a criação do homem e
da mulher à imagem e semelhança de Deus e conclui com o juízo final de
Cristo.” Os dois papas anteriores afirmaram que a evolução é um fato e
que, portanto, a história de Adão e Eva seria mítica. Se a história das
origens (e da queda) é mitológica, por que deveríamos acreditar que o
juízo final é fato, uma vez que ambos os eventos estão relacionados
(como bem destacou o papa)? Sem dúvida, essa pregação do papa sobre a
volta de Jesus é realmente importante e até surpreendente, mas é preciso
acompanhar atentamente os desdobramentos disso.
Michelson Borges, Jornalista Adventista
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