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Confissão de um pai

Radio Advento | 8:21 AM |

Escuta, filhinho: Digo-te estas coisas enquanto estás dormindo, com um braço embaixo do rosto e os cabelos caídos em tua fronte úmida. Deslizei sozinho para o teu quarto. Alguns momentos atrás, ao ler o jornal, invadiu-me uma tórrida onda de remorsos. Sentindo-me culpado, vim para junto da tua cama!

Estava pensando no seguinte, filhinho: Havia me zangado contigo. Repreendi-te enquanto estas te preparando para ir à escola, porque havias enxugado mal o rosto. Repreendi-te porque não tinhas lustrado os sapatos. Gritei, quando percebi que havias deixado algumas das coisas sobre o assoalho.

Durante o café encontrei outras faltas. Derramaste coisas na mesa. Engoliste a comida sem mastigá-la. Apoiaste os cotovelos na mesa e puseste muita manteiga no pão. E quando saías para brincar e eu ia tomar o ônibus, levantaste a tua mãozinha e gritaste: “Até logo, paizinho!” E eu franzi a testa e respondi: “Fica quieto, menino!”

De tardinha, comecei novamente. Enquanto me aproximava de casa, eu ia te espiando e vi que estavas ajoelhado, jogando bolinhas. Havia buracos nas tuas meias. Humilhei-te diante dos teus companheiros fazendo-te marchar para casa. As meias são caras – e se tivesses que comprá-las, por certo terias mais cuidado com elas! Imagina, filhinho, que um pai possa pensar dessa maneira!

Mais tarde, lembras? Enquanto eu estava lendo, te acercaste devagarinho, timidamente e com uma expressão dolorida nos olhos. Quando impaciente pela interrupção, levantei os olhos do jornal, paraste hesitante na porta. “Que queres?”, perguntei impaciente.

Não disseste nada, mas correste para junto de mim, e lançando os bracinhos ao redor do meu pescoço, me beijaste várias vezes; e o teu abraço se tornava cada vez mais apertado, refletindo o afeito que Deus fazia florescer no teu coração e que não murchava nem com a negligência. E logo, subiste, correndo, as escadas.

Bem, filhinho, pouco tempo depois o jornal me caiu das mãos e um terrível medo se apoderou de mim. O que faz de mim o hábito? O hábito de queixar-me, de procurar faltas, e repreender – assim te recompensava por ser um rapazinho. Não é que não te amava; simplesmente exigia e esperava mais de ti. Com a medida de minha própria idade eu te media.

E há tantas coisas boas e retas no teu caráter! Teu coraçãozinho é tão grande como o impulso espontâneo que tiveste ao correr ao meu encontro para beijar-me. Nada mais me importa, filhinho. Vim para junto de tua cama, e aqui me ajoelho, cheio de vergonha.

É uma penitência fraca; eu sei que não compreenderias estas coisas se eu as dissesse estando tu acordado. Mas de amanhã em diante serei um verdadeiro pai para ti! Serei um companheiro que sofrerá e rirá contigo. Repetirei como se fosse um rito: És apenas uma criança, apenas uma criança!


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